Revista Conversando com Amigos da Psicanálise.
Nesse ano de 2024, como já havia sido anunciado, vamos lançar, em agosto, uma nova revista: Conversando com Amigos da Psicanálise. Como o próprio nome indica, abre-se um espaço para comunicações menos formais e com menos rigor acadêmico no âmbito da Psicanálise. O diferencial dessa nova proposta será a homenagem, a cada novo número, de um psicanalista que tenha se destacado no cenário da Psicanálise Brasileira. Assim, em nosso primeiro número, escolhemos homenagear Hélio Pellegrino, que além de psicanalista, escritor e poeta nascido em Minas Gerais, em Belo Horizonte, se destacou por sua militância de esquerda e por sua amizade com os escritores Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende e Nelson Rodrigues. Nascido em 05 de janeiro de 1924, estamos comemorando o ano de seu centenário e, a matéria que reproduzimos em seguida, chama atenção para o silêncio desse acontecimento na imprensa brasileira:
“Em 5 de janeiro de 2024 aconteceu o centenário do psicanalista mineiro Hélio Pellegrino. Nenhuma matéria na imprensa brasileira. Nenhuma nota. Nem mesmo nos jornais da sua cidade natal, Belo Horizonte. Muito menos na sua cidade de escolha, Rio de Janeiro, onde passou a maior parte da sua vida. O que isso significa? Que ele foi um poeta menor, com apenas um livro póstumo? Ou um cronista/ensaísta mediano, indigno de crédito? O que será? O que seria? Não há nada a se dizer?
Sim, há. O seu legado poético tem de ser resgatado. Não basta a publicação do ‘Minérios Domados’ (Ed. Rocco) carpintaria delicada feita por Humberto Werneck nos seus guardados. Há mais poesia escondida no baú. O legado de textos em prosa, publicados em jornal é um importante arcabouço. Por obra e graça da seleção de cartas, poemas e artigos, feita por Antônia Pellegrino, existe o livro “Lucidez Embriagada”. E a sua quixotesca luta contra os barões da Sociedade Psicanalítica produziu memoráveis textos ensaísticos. Cabe aos herdeiros remexerem nesse baú e provocar a mágica da ressurreição de Hélio Pellegrino. E sem esquecer do precioso perfil biográfico do psicanalista escrito por Paulo Roberto Pires (‘A Paixão Indignada’. Ed. Relume Dumará).
Neste campo, ele se declarava católico praticante e marxista convicto. Assim, dizia, aos brados, com aqueles braços imensos e olhos faiscantes, que acreditava mesmo é na Ressurreição da Carne. ‘Eu acredito é na Ressurreição da Carne’ – repetia. Era este o seu bordão contra o medo da morte: queria voltar reencarnado no próprio corpo, exatamente como ele foi. Não só a alma o acompanharia – o corpo também.
No campo das ideias, o silêncio da imprensa reflete o pior dos mundos: a indiferença pela ausência dos intelectuais na Política. As intrincadas razões desta retirada têm a ponta do novelo muito clara: a tortura. Cumprindo à risca as ordens de Golbery do Couto e Silva, os artistas e os intelectuais foram tão perseguidos quanto os ativistas. Mas aqui é necessário dizer que muitos eram professores-jornalistas-escritores-músicos-poetas e ativistas clandestinos. Por isso o foco, por isso a necessidade imperial de excluí-los do campo político, do campo da discussão de ideias. Afinal, como bem disse Nietzsche, ‘as ideias são forças’.
E Hélio Pellegrino era destes, da turma dos insubstituíveis. Ficou preso com Zuenir Ventura, foi solto sob a intervenção de Nelson Rodrigues – história que Zuenir conta muito bem. Foi orador da passeata dos Cem Mil. Foi fundador do Partido dos Trabalhadores. Foi um pensador. Um homem com tal carisma que tornou sua falta inesquecível. Quem já o ouviu discursar não esquece.
O resultado está posto: a Política sem os intelectuais fica sem humanidade. Política sem Arte é apenas uma planilha de Excel. Números sem alma. Sem Hélio Pellegrino e seus olhos repletos de paixão por um País novo e, como ele, inesquecível. Hoje deveríamos dizer: ‘Hélio Pellegrino, Presente’! Ele iria gostar”.
Assim, com o n. 1 da Conversando com Amigos da Psicanálise estamos dizendo: “Hélio Pellegrino, Presente!” E, convidamos a todos, os amigos da Psicanálise, a se juntarem a nós nessa justa e indispensável homenagem.
Além da Sessão de Artigos Temáticos homenageando, a cada novo número, um Psicanalista que tenha se destacado no cenário da Psicanálise Brasileira, vamos ter também a Sessão de Temas Livres sobre as conexões da Psicanálise seja com o campo da Política, das Artes em geral, como a Literatura, o Cinema, a Pintura, o Teatro, a Música ou as Ciências Sociais, como a Sociologia, a Antropologia, ou ainda sobre questões atuais e polêmicas relativas ao próprio exercício da Psicanálise e sua Clínica Contemporânea.
Pretendemos lançar o n. 1 da Conversando com Amigos da Psicanálise, junto com o n. 50 da Cadernos de Psicanálise – CPRJ, no dia 17 de agosto de 2024.
Os Artigos Temáticos e os Artigos de Temas Livres podem ser encaminhados para nossa Bibliotecária Ana Carla Teodoro: biblio@cprj.com.br até 30 de maio de 2024 para serem encaminhados para avaliação com vistas a publicação!
Comissão Executiva Técnica de Publicações e Biblioteca
Maria Theresa da Costa Barros
Carla Penna
Denise Jabour
Henrique Sobreira
Lenita Cavalcante
Marcela Diniz Dumas
Regina Orth de Aragão
Ana Carla Teodoro – Bibliotecária