Editorial, volume 42, nº 42

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Resumo

É incontestável a gravidade da crise que estamos vivendo, sendo um momento extremamente penoso em muitas instâncias: social, política e economicamente. Perdemos o que Giddens (CASTIEL, 2003; FIGUEIREDO, 2012) define como “segurança ontológica”: aquele sentimento necessário de estabilidade em termos de si mesmo (autoidentidade) e de seu entorno, que se enraíza no indivíduo e que lhe permite viver com relativa tranquilidade e algum prazer (PROCHET, 2018). A perda da segurança não atinge apenas aquilo que foi fraturado. O sentimento de inconfiabilidade se espalha para o outro, o ambiente e o próprio indivíduo e, sem que um sentimento mínimo de segurança possa ser assegurado, torna-se muito difícil sustentar diferenças e singularidades, pois estas passam a ser percebidas como ameaças em potencial. A perda da segurança e da capacidade de confiar tem sempre como consequência uma resposta de sofrimento que pode ser expressa de várias formas: fisicamente, através do adoecer e das manifestações de stress; verbalmente, por relatos de tristeza e desânimo ou silenciosamente.

O Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro em 2020 procurou acompanhar o que vinha sendo expresso na cultura e optou pelo tema Exclusão, solidão, desesperança: excessos e vazios. Não se sabia, ainda, na ocasião da escolha do tema, que outra circunstância agravaria ainda mais o quadro desalentador descrito no início das atividades institucionais: a eclosão da pandemia mundial de COVID-19.

Em razão deste acontecimento que acompanha o mundo ao longo de todo o ano, a Comissão Executiva Técnica de Publicações e Biblioteca considerou ser fundamental a inclusão de mais um tema na proposta dos Cadernos de Psicanálise-CPRJ 2020. Nossa revista passa, assim, a ter o título de Exclusão, solidão, desesperança e pandemia.

Além das seções de artigos temáticos e não temáticos, apresentamos duas resenhas dos livros: Por que Ferenczi?, de Daniel Kupermann e A psicanálise: caminhos no mundo em transformação, de Luís Claudio Figueiredo.

Embora os temas deste ano sejam muito difíceis e dolorosos, acreditamos, sem um olhar ingênuo, mas com esperança, que estejamos atravessando um momento mutativo da experiência humana e acreditamos ser possível viver os momentos difíceis com o uso do potencial criativo e reparador do indivíduo, em direção à resiliência e à transformação. “Para ser compreendida, a solidão deve ser compartilhada, deixando então de ser solidão” (ANZIEU, D. Antinomies de la solitude., Nouv. Rev. Psych., 36:123, 1997).

Os Editores

Publicado
06-08-2020
Como Citar
EDITORES, O. Editorial, volume 42, nº 42. Cadernos de Psicanálise | CPRJ, v. 42, n. 42, p. 9-10, 6 ago. 2020.