Sobre o mal-estar na juventude brasileira
da dor à política
Resumo
O artigo parte do questionamento sobre o aumento nos índices de autolesões e suicídios nas adolescências brasileiras nos últimos anos, para interrogar a dimensão sociopolítica do sofrimento juvenil, apresentando ideias oriundas de pesquisas desenvolvidas na interface entre a Psicanálise, a Educação e a Política. Esboça a tese relativa ao declínio da dimensão alteritária na esfera social, que impacta na possibilidade de simbolização e partilha do sofrimento psíquico, com o predomínio do regime da dor. Pensa as experiências dos coletivos juvenis espontâneos, bem como das intervenções clínicas no coletivo como meios para a elaboração desse mal-estar que coincidem com a possível politização da dor.
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