Psicanálise e responsabilidade subjetiva:
reflexões sobre uma problemática relação entre clínica, neoliberalismo e vulnerabilidade social
Resumo
Embora muito difundida nas clínicas psicanalíticas atuais, a responsabilidade subjetiva pode e deve ser colocada em cheque ao posicionar o sujeito como unicamente responsável por si e seus conteúdos inconscientes, tendendo a desconsiderar estruturas e questões sociais dentro do setting analítico. Dessa forma, transitando por reflexões sobre os termos “responsabilidade” e “sujeito”, o presente artigo se propõe, por meio de uma revisão narrativa, a repensar a noção de responsabilidade do sujeito em análise e refletir sobre as práticas clínicas a partir de sujeitos em vulnerabilidade social. Ao final, destaca-se a relevância de uma psicanálise mais implicada político, sócio e culturalmente com sua teoria e prática visto a dimensão de sua atuação.
Referências
DANTO, E. As clínicas públicas de Freud: psicanálise e justiça social. São Paulo: Editora Perspectiva, 2020.
DARDOT, P.; LAVAL, C. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. Tradução de Mariana Echalar. São Paulo: Editora Boitempo, 2016. Disponível em: <http://www.afoiceeomartelo.com.br/posfsa/autores/Dardot,%20Pierre/A%20nova%20razao%20do%20mundo%20-%20Dardot,%20Pierre.pdf>. Acesso em: 17 mai. 2023.
DUTRA, F. G. Sujeito e responsabilidade. El rey está desnudo: Revista para el psicoanálisis por venir, n. 8, p. 1-27, 2015. Disponível em: <https://www. elreyestadesnudo.com.ar/wp-content/uploads/2015/09/Sujeito-e-responsabilidade.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2023.
EIDELSZTEIN, A. A “responsabilidade subjetiva” em psicanálise. Tradução de Camila Quinteiro Kushnir. [Título original: La “responsabilidad subjetiva” en
psicoanalisis. Elrey está desnudo: Revista para el psicoanálisis por venir, n. 8, p. 1-15, 2015. Disponível em: <https://elreyestadesnudo.com.ar/wp content/uploads/2015/09/La-responsabilidad-subjetiva.pdf>]. Fractal: Revista de Psicologia, Niterói, v. 33, n. 1, p. 41-46, 17 mar. 2021. Disponível em: <https://periodicos.uff.br/fractal/article/view/36050/28673>. Acesso em: 18 mar. 2023.
FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 4. ed. Curitiba: Positivo, 2009.
FINK, B. Introdução clínica à psicanálise lacaniana. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
FRANCO, F. et al. O sujeito e a ordem do mercado: gênese teórica do neoliberalismo. In: SAFATLE, V.; SILVA JUNIOR, N.; DUNKER, C. (Org.). Neoliberalismo como
gestão do sofrimento psíquico. Belo Horizonte: Autêntica, 2021. p. 47-75.
FREUD, S. (1919). Caminhos da terapia psicanalítica. In: História de uma neurose infantil (“O homem dos lobos”), além do princípio do prazer e outros textos. Tradução
de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 209-219. (Obras completas, 14).
______. (1923). O eu e o id. In: O eu e o id, “autobiografia” e outros textos. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 9-64. (Obras
completas, 16).
______. (1930). O mal-estar na cultura. In: O mal-estar na cultura e outros escritos de cultura, sociedade, religião. Tradução de Maria Rita Salzano Moraes. Belo Horizonte:
Autêntica, 2020. p. 305-405. (Obras incompletas de Sigmund Freud, 9). INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2022. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101979.pdf >. Acesso em: 08 mar. 2023
KUSHNIR, C. Q. Considerações sobre o problema da responsabilidade em psicanálise. In: NUNES, L. N.; SILVA, S. M. (Org.). Desambiguar Lacan de Freud.
Porto Alegre: Arte e Ecos, 2023. p. 77-104. Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/1SzhC9QwRlXk46Dk2j0Dj4kjIDrCCrRLR/view?usp=sharing>. Acesso em: 25
mai. 2023.
LACAN, J. (1966). A ciência e a verdade. In: ______. Escritos. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. p. 869-892.
______. (1950). Introdução teórica às funções da psicanálise em criminologia. In: ______. Escritos. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. p. 127-151.
______. (1959-1960). O seminário, livro 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.
______. (1964). O seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Tradução de M. D. Magno. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
______. (1964-1965). O seminário, livro 12: problemas cruciais para a psicanálise.
Recife: Centro de Estudos Freudianos de Recife, 2006. Disponível em: <https://www.studocu.com/pt-br/document/centro-universitario-inga/psicologia/lacan-jacques-o-seminario-livro-12-problemas-cruciais-para-a-psicanalise/9716352> . Acesso em: 25 mai. 2023.
MOREIRA, J. de O.; ROMAGNOLI, R. C.; NEVES, E. de O. O surgimento da clínica psicológica: da prática curativa aos dispositivos de promoção da saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 27, n. 4, p. 608-621, dez. 2007. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1414-98932007000400004>. Acesso em: 16 nov. 2023.
MUSATTI-BRAGA, A. P. Os muitos nomes de Silvana: contribuições clínico-políticas da psicanálise sobre mulheres negras. 2015. Tese (Doutorado em Psicologia Clínica). Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2015. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-10052016-104955/publico/braga_corrigida.pdf>. Acesso em: 17 mai. 2023.
NOGUEIRA, I. B. Cor e inconsciente. In: KON, N. M.; SILVA, M. L. da; ABUD, C. C. (Org.). O racismo e o negro no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2017. p. 121-126.
PRECIADO, P. B. Eu sou o monstro que vos fala: relatório para uma academia de psicanalistas. Tradução de Carla Rodrigues. Rio de Janeiro: Zahar, 2022.
RIBEIRO, J. L. P. Revisão de investigação e evidência científica. Psicologia, Saúde e Doenças, Lisboa, v. 15, n. 3, p. 671-682, 2014. Disponível em: <https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=36232744009>. Acesso em: 03 jul. 2023.
RIBEIRO, M. de P. O individualismo neoliberal como obstáculo à formação de professores na perspectiva da pedagogia crítica. Educere et Educare, [S. l.], v. 10, n.
, 2015. Disponível em: <https://e-revista.unioeste.br/index.php/educereeteducare/article/view/10650>. Acesso em: 21 nov. 2023.
ROSA, M. D. Uma escuta psicanalítica das vidas secas. Textura: Revista de Psicanálise, v. 2, n. 2, p. 42-46, 2002. Disponível em: <https://psicanalisepolitica.files.wordpress.com/2014/06/33-rosa-m-d-uma-escuta-psicanalc3adtica-das-vidas-secas-textura-sc3a3o-paulo-sc3a0o-paulo-v-2-n-2-p-42-47-2002.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2023.
______. A clínica psicanalítica em face da dimensão sociopolítica do sofrimento. São Paulo: Escuta, 2016.
ROTHER, E. T. Revisão sistemática x revisão narrativa. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 20, n. 2, p. 5-6, abr, 2007. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/ape/a/z7zZ4Z4GwYV6FR7S9FHTByr/?format=pdf〈=pt>. Acesso em: 03 jul. 2023.
SILVA JUNIOR, N. O Brasil da barbárie à desumanização neoliberal: do “Pacto edípico, pacto social”, de Hélio Pellegrino, ao “E daí?”, de Jair Bolsonaro. In: SAFATLE, V.; SILVA JUNIOR, N.; DUNKER, C. (Org.). Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico. Belo Horizonte: Autêntica, 2021. p. 255-280.
SIQUEIRA, F. G. Da culpa em Freud à responsabilidade em Lacan: paradigmas para uma articulação entre psicanálise e criminologia. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 21, n. 1, p. 141-157, jan. 2015. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682015000100010&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 18 nov. 2023.
VILLEY, M. Esboço histórico acerca do termo responsável (1977). Tradução de André Rodrigues Corrêa. [Título original : Esquisse historique sur le mot “responsable”. Archives de Philosophie du Droit, Paris, n. 22, 1977]. Disponível em: <https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/revdireitogv/article/view/35269/34063>. Acesso em: 18 mar. 2023.
Copyright (c) 2024 Cadernos de Psicanálise | CPRJ
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.