From Crowd Psychology to the Dynamics of Large Groups

Resumo

Carla Penna, autora do livro From Crowd Psychology to the Dynamics of Large Groups, tem uma já longa e profícua relação acadêmica e prática com o campo da psicanálise em grupos, com atuação profissional como psicanalista em clínica individual e grupal e membro de diversas instituições ligadas ao tema dentro e fora do Brasil.

A cena acadêmica brasileira nos campos da filosofia e da psicanálise apresenta particularidades em comparação com outros países, sobretudo quando se coteja as tradições europeias. A tônica na academia brasileira é a diversidade de linhagens e doutrinas que têm frutificado em pesquisa e produção inovadoras que abordam de maneira multidisciplinar temas tanto da clínica individual quanto – e sobretudo – da clínica do social.

Carla é certamente uma das protagonistas dessa fertilidade intelectual brasileira e logrou ser reconhecida no contexto europeu de tal modo que tem sido convidada a publicar em coletâneas sobre a relação entre a psicanálise de grupo e a teoria social, o que finalmente resultou na publicação do livro em tela nesta resenha. Destaque-se que tal publicação foi realizada na língua inglesa e teve seu evento de lançamento na casa Freud em Londres.

O livro traz uma historiografia das teorias e práticas da psicanálise em grupo sem cair em uma comparação crítica baseada em preferências pessoais, o que infelizmente tem contaminado o cenário intelectual da psicanálise. Ao contrário, Carla nos oferece um passeio com síntese e precisão, sem perder em profundidade, por autores fundamentais no campo da psicanálise dos grupos de modo a construir um todo que faz cooperar autores clássicos como Freud, Bion e Foulkes, entre outros, com autores contemporâneos como Hopper, Tubert-Oaklander e a própria Carla, entre outros. Ademais, a psicanálise é colocada em composição com a filosofia e a sociologia através de gente como Simmel, Norbert Elias, Ortega y Gasset, Honneth e Adorno, entre outros, em uma tessitura delicada que, como as filigranas portuguesas, forma um conjunto harmônico e belo.

No entanto, o livro não se limita apenas à oferta dessa delicada e valiosa integração entre a sociologia, a filosofia e a psicanálise, pois também atravessa o texto uma necessária e sobretudo atual reflexão realizada através de uma tese crítica sobre a centralidade absoluta da ideia de individualidade que naturalizou a precedência do individual sobre o social e assim abriu e aprofundou um complexo de narcisismos patológicos individuais e grupais que tem inibido o comum e assim reduz a vida ao biopoder.

Por fim, Carla mobiliza as reflexões psicanalíticas sobre a psicologia das multidões e das massas de modo a construir uma ponte entre o trabalho seminal de Freud em Psicologia de Grupo e Análise do Ego e seus desdobramentos, sobretudo na tradição da Groupanalysis que investe no conceito de um inconsciente social como caminho para articular as teorias sobre pequenos e grandes grupos com uma teoria social, de modo a apontar caminhos para uma psicologia social, vale dizer, psicologia da multidão e das massas. A necessidade de encontrar novos e atuais caminhos decorre de um diagnóstico do nosso tempo no qual a autora aponta sintomas de uma patologia social, como a polarização política, a revitalização de nacionalismos e totalitarismos ou ainda a radicalização das discriminações étnicas, raciais e de gênero, entre outros sintomas que geram sofrimentos individuais e sociais.

Enfim, o livro From Crowd Psychology to the Dynamics of Large Groups não esgota o tema – e nem seria de se esperar que esgotasse. Formula um convite a pensar nos termos do que Bion propõe como apreender a realidade e compreendê-la através de uma composição harmônica entre razão e emoção e assim se torna uma leitura mandatória para aqueles que percebem ou intuem a necessidade de recuperar a positividade da vida em comum.