Trauma, conceito aberto

  • Eugênio Canezin Dal Molin Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP, São Paulo, SP
Palavras-chave: Trauma, Trauma cultural, Sándor Ferenczi, Desmentido, Metapsicologia

Resumo

Este artigo apresenta e discute dois conjuntos de teorias relativas ao trauma. O primeiro envolve as teorias psicanalíticas sobre o trauma psíquico, em especial a teoria ferencziana, e o segundo refere-se a uma teoria contemporânea do “trauma cultural”. Argumentamos que estes dois grupos de teorias têm alguns elementos relevantes em comum, apesar da crítica dos teóricos sociais ao entendimento psicanalítico sobre o assunto. A nosso ver, os pontos de encontro mais importantes entre estes grupos de teorias dizem respeito (a) à possibilidade de pensar que o trauma não está soldado a acontecimentos, mas tem um processo de formação, de atribuição de sentido, (b) que este processo tem uma temporalidade própria, e (c) que o ambiente (os objetos, atores e agentes que o compõem) tem um papel fundamental e determinante na formação do trauma. Além disso, sugerimos que o trauma ainda é um conceito aberto na psicanálise.

Biografia do Autor

Eugênio Canezin Dal Molin, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP, São Paulo, SP

Psicanalista. Doutor pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP). Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e Membro fundador do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi (GBPSF). Professor dos cursos de Especialização em Teoria Psicanalítica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Cogeae/PUC-SP) e Psicopatologia e Saúde Pública da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Foi coordenador da Comissão Científica da 14ª Conferência Internacional Sándor Ferenczi. São Paulo, SP, Brasil.

Referências

ADORNO, T. W. Negative Dialectics. Nova Iorque: Continuum, 2007.

ALEXANDER, J. C. Preface. In: ALEXANDER, J.C. et al. Cultural trauma and collective identity. Berkley/CA: Un. of California Press, 2004a, p. 7-9.

______. Toward a theory of cultural trauma. In: ALEXANDER, J.C. et al. Cultural trauma and collective identity. Berkley/CA: Un. of California Press, 2004b, p.1-30.

______. Trauma. A social theory. Cambridge: Polity, 2012. BALINT, M. Trauma and object relationship. International Journal of Psychoanalysis, 50(4), p. 429-435, 1969.

BANDEIRA DE MELO, P. Histórias que a mídia conta: o discurso sobre o crime violento e o trauma cultural do medo. (Tese de doutorado). Universidade Federal de Pernambuco, 2010. Disponível em: <http://repositorio.ufpe.br/bitstream/handle/123456789/9519/arquivo439_1.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 20 mai. 2024.

BENJAMIN, W. Origem do drama trágico alemão. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.

BOKANOWSKI, T. Le concept de trauma chez S. Ferenczi. In: BRETTE, F.; EMMANUELLI, M.; PRAGIER, G. (Dirs.). Monographies de psychanalyse de la Revue Française de psychanalyse - Le traumatisme psychique: Organization e désorganisation. Paris: PUF, 2005. p. 27-42.

BRABANT, E.; FALZEDER, E. (Eds.). The correspondence of Sigmund Freud and Sándor Ferenczi, Volume III, 1920-1933. Cambridge, MA/London: The Belknap Press of Harvard University Press, 2000.

DAL MOLIN, E. C. O terceiro tempo do trauma: Freud, Ferenczi e o desenho de um conceito. São Paulo, SP: Perspectiva, 2016.

______. Trauma, silêncio e comunicação. In: FRANÇA, C. P. (Org.). Ecos do silêncio: reverberações do traumatismo sexual. São Paulo, SP: Blucher, 2017. p. 63-86.

______. Trauma: open concept. The American Journal of Psychoanal., 84, p. 79–93, 2024. Disponível em: <https://doi.org/10.1057/s11231-024-09442-0>. Acesso em: 20 mai. 2024.

ERIKSON, K. Everything in its path. New York: Simon and Schuster, 1976.

EYERMAN, R. Cultural trauma: Slavery and the formation of African American Identity. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.

EYERMAN, R.; ALEXANDER, J. C.; BUTLER BREESE, E. (Ed.). Narrating trauma: on the impact of collective suffering. Boulder and London: Paradigm Publishers, 2011.

FERENCZI, S. (1919[1918]). A técnica psicanalítica. São Paulo: Martins Fontes, 1992. (Obras completas Psicanálise, 2).

______. (1928). A adaptação da família à criança. Tradução de A. Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 2011, p. 1-16. (Obras completas Psicanálise, 4).

______. (1929). A criança mal acolhida e sua pulsão de morte. Tradução de A. Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 2011. p. 55-60. (Obras completas Psicanálise, 4).

______. (1930-1932). Notes and fragments. In: ______. Final contributions to the problems and methods of Psycho-Analysis. (M. Balint, ed.). London: Karnac, 2002. p. 216-279.

______. (1931). Análise de crianças com adultos. Tradução de A. Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 2011. p. 79-95. (Obras completas Psicanálise, 4).

______. (1933). Confusion of tongues between adults and the child: The language of tenderness and of passion. In: ______. Final contributions to the problems and methods of psycho-analysis. (M. Balint, ed.). London: Karnac, 2002. p. 156-167.

______. (1932). The clinical diary of Sándor Ferenczi. J. Dupont (Ed.), M. Balint; N. Z. Jackson (Trads.). Cambridge, MA: Harvard University Press, 1988.

FIGUEIREDO, L. C.; COELHO JUNIOR, N. E. Adoecimentos psíquicos e estratégias de cura. Matrizes e modelos em psicanálise. São Paulo: Blucher, 2018.

FREUD, S. The neuro-psychoses of defence. London: Hogarth, 1894. (Standard Edition, 3).

______. Project for a scientific psychology. London: Hogarth, 1895. (Standard Edition, 1).

______. Heredity and the aetiology of the neuroses. London: Hogarth, 1896a. (Standard Edition, 3).

______. Further remarks on the neuro-psychoses of defence. London: Hogarth, 1896b. (Standard Edition, 3).

______. The aetiology of hysteria. London: Hogarth, 1896c. (Standard Edition, 3).

______. Introduction to Psychoanalysis and the war neuroses. London: Hogarth, 1918. (Standard Edition, 17).

______. Beyond the pleasure principle. London: Hogarth, 1920. (Standard Edition, 18).

______. (1939). Moisés e o monoteísmo: três ensaios (1934-1938). São Paulo: Companhia das Letras, 2018. (Obras completas, 19).

FREUD, S.; BREUER J. (1893-1895). Studies on hysteria. London: Hogarth. (Standard Edition, 2).

FULGÊNCIO, L. A noção de trauma em Freud e Winnicott. [The notion of trauma in Freud and Winnicott]. Natureza Humana, 6 (2), p. 255–270, 2004.

Retrieved 12th April 2021. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302004000200003&lng=pt&tlng=pt>. Acesso em: 20 mai. 2024.

GIESEN, B. Cultural Trauma and Religious Identity. In: Oxford handbooks online. 2014. Disponível em: <https://is.muni.cz/el/fss/jaro2013/SOC564/um/41746051/brno_2_-_cultural_trauma_and_religious_identity.pdf>. Acesso em: 20 mai. 2024.

GONDAR, J. Ferenczi como pensador político. Cadernos de Psicanálise-CPRJ, Rio de Janeiro, 34(27), p. 193-210, 2012.

______. Ferenczi e o sonho. In: REIS, E. S.; GONDAR, J. Com Ferenczi: clínica, subjetivação, política. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017a. p. 65-77.

______. O desmentido e a zona cinzenta. In: REIS, E. S.; GONDAR, J. Com Ferenczi: clínica, subjetivação, política. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017b. p. 89-100.

JANIN, C. Figures et destins du traumatisme. Paris: Presses Universitaires de France, 2004.

______. Au coeur de la théorie psychanalytique: le traumatisme. In: BRETTE, F.; EMMANUELLI, M.; PRAGIER, G. (Dirs.). Monographies de psychanalyse de la Revue Française de psychanalyse - Le traumatisme psychique: Organization e désorganisation. Paris : PUF, 2005. p. 43-56.

KNOBLOCH, F. O tempo do traumático. São Paulo: Educ, FAPESP, 1998.

KUPERMANN, D. Presença sensível: cuidado e criação na clínica psicanalítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

______. Por que Ferenczi? São Paulo: Zagodoni, 2019.

LAPLANCHE, J. Problématiques VI: l’aprés-coup. Paris: PUF, 2006.

MASSON, J. M. (Ed.). The Complete Letters of Sigmund Freud to Wilhelm Fliess 1887-1904.Cambridge, MA and London: The Belknap Press of Harvard University Press, 1985.

MONEY-KYRLE, R. (1977). On being a psychoanalyst. In: ______. Man’s Picture of his world and three papers. London: Karnac, 2014. p. 1-10.

PINHEIRO, T. Ferenczi: do grito à palavra. Rio de Janeiro: Jorge Zahar e UFRJ, 1995.

SMELSER, N. J. Psychological trauma and cultural trauma. In: JEFFREY, C. et al. Cultural trauma and collective identity. Berkley/CA: Un. of California Press, 2004. p. 31-59.

SZTOMPKA P. Cultural trauma: The other face of social change. European Journal of Social Theory. 2000, 3(4), p. 449-466. Disponível em: <https://doi.org/10.1177/136843100003004004>. Acesso em: 20 mai. 2024.

UCHITEL, M. Neurose Traumática: uma revisão crítica do conceito de trauma. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

VEYNE, P. M. Como se escreve a história: Foucault revoluciona a história. 3. ed. Brasília: Ed. Unb, 1995.

WAGNER, R. (1981). The invention of culture. Chicago & London: The University of Chicago Press, 2020.

WEIL, E. Lieux du traumatique, le génocide: Le nouage collectif-individuel [Places of the traumatic, genocide: The collective-individual knot]. Rapport 81ème Congrès des Psychanalystes de Langue. Revue Française de Psychanalyse, 85(5), p. 1095–1147, 2021.

WEITZ, M. The Role of Theory in Aesthetics. The Journal of Aesthetics and Art Criticism, v. 15, n. 1, p. 27-35, September, 1956.

WINNICOTT, D. W. (1963). Morals and education. The maturational processes and the facilitating environment: Studies in the theory of emotional development. London: Karnac, 2007. p. 93–105.

______. (1965). The concept of trauma in relation to the development of the individual within the family. In Psycho-analytic explorations. C. Winnicott, R. Shepherd, & M. Davis (Eds.). London: Karnac, 1989. p. 130–148.

Publicado
07-08-2024
Como Citar
DAL MOLIN, E. Trauma, conceito aberto. Cadernos de Psicanálise | CPRJ, v. 46, n. 50, p. 19-38, 7 ago. 2024.