O irrepresentável em Harmada, de João Gilberto Noll

  • Caciana Linhares
Palavras-chave: Harmada, Psicanálise, Arte, Representação, Real

Resumo

O artigo aborda aspectos da ficção brasileira produzida a partir da década de 80, dirigindo-se de modo específico, a Harmada, livro de João Gilberto Noll. As insígnias do abalo, do extravio, do cataclismo e do terremoto são relacionadas a um objeto produzido pela incidência dos produtos da ciência, do advento da técnica e do massacre de massa: a ruína. Este objeto teria a particularidade de mostrar o que não pode ser capturado pela representação e pelo sentido. A proposição é a de que Harmadadesconstrói, em sua forma, a unidade imaginária da estrutura narrativa e, nesse procedimento, faz emergir um vazio correlativo do próprio sujeito. Vazio que remete ao que, em uma obra de arte, constitui seu núcleo real.

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Publicado
22-10-2018
Como Citar
LINHARES, C. O irrepresentável em Harmada, de João Gilberto Noll. Cadernos de Psicanálise | CPRJ, v. 39, n. 37 jul/dez, p. 67-82, 22 out. 2018.