Psicanálise e Cinema 2023
CICLO PSICANÁLISE E CINEMA 2023
CPRJ-SPCRJ
Organizadores: Paulo Sérgio Lima Silva e Neyza Prochet
O bem é aquilo que dá maior realidade aos seres e às coisas.
O mal é aquilo que disso os priva. (Simone Weil)
A escalada da violência tem se mostrado como um problema crescente e extremamente grave na contemporaneidade. Ela se apresenta em todos os lugares e espaços de nossas vidas e tem nas mídias um solo fértil. Grassa no morro e no asfalto, atingindo jovens, velhos e bebês, homens e mulheres. Atinge a todos, mas nunca da mesma maneira ou com a mesma intensidade. A violência tem uma preferência especial pelas minorias e pelos mais fracos onde determinados traços como idade, gênero, credos, cor de pele e condição econômica tornam uns muito mais vulneráveis que outros. Ela aparece em todo ato que, deliberadamente, leve ao sofrimento uma pessoa ou um grupo, roubando deste sua humanidade, semelhança ou traço identificatório. Num movimento semelhante ao atirarmos uma pedra na água, todo gesto violento mostra-se um multiplicador, propagando-se em ondas, impulsionando mais e novos atos de violência, conectados entre si.
A violência acontece como resposta quando o sentimento de confiança básica no existir não se instala ou é destruído e a relação com a diferença e a alteridade fica insuportável porque ela ameaça à integridade do sujeito. O indivíduo violento vive em retraimento, relacionando-se predominantemente com seu mundo interno, num círculo vicioso, onde os objetos internos não migram da realidade psíquica para a realidade compartilhada, ou vice-versa, em um estado de encapsulamento, não sendo alimentado pelas trocas ambientais. Em função disto, funda-se um modo de funcionamento avesso à diferença, à mudança e à troca, visto que estas passam a ser compreendidas como uma ameaça de colapso iminente do equilíbrio precário que o indivíduo conseguiu criar.
Violência e intolerância caminham juntas tornando-se mutuamente catalisadoras da outra. A experiência humana quando fundada no contato fracassado com o ambiente resulta em sentimentos de ameaça e necessidade de defesa permanentes e o contato com o outro, o reconhecimento da diferença e da alteridade, mais do que serem evitados precisam ser destruídos. A intolerância promove a coisificação e a subordinação da experiência humana a conceitos abstratos, ideias ou causas. Se estas ideias ou conceitos tomam o lugar dos vínculos interpessoais encontramos a essência do pensamento fanático. Desta forma, Como recurso preferencial, a desumanização – a conversão do dessemelhante em coisa – o que justifica, para o intolerante, a eliminação radical de toda e qualquer diferença, assim com sedimenta a indiferença ao sofrimento alheio e a ausência de empatia.
Mais do que um compromisso, é um dever ético que qualquer força que atinja a capacidade empática e a fratria deva ser combatido, independente de sua origem filosófica. O enfrentamento ao ódio e à intolerância acontece através da capacidade humana de criar vínculos entre pessoas e ideias, num empenho devotado em restaurar e preservar as raízes do existir humano – o reconhecimento da alteridade. Eu sou o outro do outro. O outro do outro sou eu.
O tema escolhido para o ciclo de Cinema CPRJ/SPCRJ 2023 é:
O DESAMOR ÀS DIFERENÇAS: MÚLTIPLAS FACES DA INTOLERÂNCIA.
Desejamos que os encontros neste ciclo, através dos filmes selecionados e a discussões a serem geradas, possam promover experiências de escuta, respeito e compartilhamento. Esperamos, com este tema, fazer um tributo a toda forma de criatividade humana que constrói pontes entre indivíduos em vez de trincheiras ou calabouços.
“…todos nascemos filhos de mil pais e de mais de mil mães, e a solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo. Como se os nossos mil pais e mais as nossas mil mães coincidissem em parte, como se fôssemos por aí irmãos, irmãs uns dos outros. Somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa em pessoa, que nunca estaremos sós”. (Valter Hugo Mãe. O Filho de Mil Homens. São Paulo: Cosac Naify. 2012. p. 188).
Ciclo de Cinema CPRJ/SPCRJ 2023
O desamor às diferenças: múltiplas faces da intolerância
14 de abril
As Bruxas de Salem (The Crucible)
2h 06min – Diretor: Nicholas Hytner, 1996.
Comentadores: Maria Theresa da Costa Barros (CPRJ) e Mariana Brício (SPCRJ)
26 de maio
Vida em Família (Family Life)
1h 48min – Diretor: Ken Loach, 1971
Comentadores: Maicon Cunha (CPRJ) e Regina Landim (SPCRJ)
18 de agosto.
O Insulto (The Insult)
1h 53min – Diretor: Ziad Doueiri, 2017.
Comentadores: Luís Cláudio Figueiredo (CPRJ) e Anna Elisa Penalber (SPCRJ)
15 de setembro
Entre os Muros da Escola (Entre les Murs)
1h 52min – Diretor: Laurent Cantet, 2008.
Comentadores: Tereza Mendonça Estarque (CPRJ) e Katia Geluda (SPCRJ)
27 de outubro
Faça a Coisa Certa (Do the Right Thing)
2h – Diretor:Spike Lee, 1989.
Comentadores: Sabira Alencar (CPRJ) e Cid Merlino (SPCRJ)