Histórico
O Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro, fundado em 27/03/69, é uma sociedade de psicanálise fundamentada na obra de Sigmund Freud e de seus continuadores, que, enquanto instituição, não se propõe a oficializar nem a excluir qualquer corrente do pensamento psicanalítico. (1)
Tem como finalidade o estudo teórico-clínico da psicanálise e de conhecimentos afins como um processo de formação permanente, em que a troca de experiências torne possível a circulação do saber e o reconhecimento entre pares. (2)
A psicanálise é entendida como: um procedimento de investigação dos processos mentais inconscientes; um método de tratamento de problemas psíquicos baseado
neste procedimento; e uma série de conceitos teóricos e técnicos assim adquiridos, que formam progressivamente o saber que foi iniciado por Sigmund Freud e vem sendo desenvolvido por seus continuadores. (3)
O Círculo implementa seu programa de formação permanente em um espaço denominado Fórum de Psicanálise, implicando todos os participantes na produção do saber psicanalítico. É facultada a condição de Associados ao Fórum àqueles que não sejam membros efetivos da instituição.
É impossível fazer-se um histórico, mesmo conciso, do Círculo, sem referência aos primórdios do movimento psicanalítico no Rio. O professor Werner Walter Kemper e a senhora Anna Katrin Kemper (D. Catarina), vindos da Alemanha, iniciaram suas atividades nesta cidade em 1949. Em 1955 o grupo de estudos que criaram foi reconhecido como Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro pela International Psychoanalytic Association. O professor Kemper retornou para a Alemanha em 1967 e D. Catarina, embora didata, desinteressou-se da sociedade, que a desligou em 1968. Suas idéias originais, sua experiência, sua inquietação produtiva, sua criatividade e vitalidade, no entanto, tinham atraído e mantiveram em seu redor um grupo de estudiosos de psicanálise, de dentro e de fora da instituição que ajudara a fundar. (4)
Em 1968 o professor Igor Caruso, de Salzburg, veio ao Brasil, mais especificamente a Belo Horizonte, sede, na época, do Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda, presidido por seu discípulo, o professor Malomar Lund Edelweiss. Os dois fizeram contato com D. Catarina, interessados em que se criasse no Rio uma unidade do Círculo Brasileiro. (5)
Estimulados por D. Catarina, quatro de nós, associados a quatro colegas ligados ao professor Malomar, decidimos nos instituir e nasceu, assim, em 1969, nosso Círculo, como 4ª sociedade psicanalítica no Rio de Janeiro. Já existiam o Instituto de Medicina Psicológica (hoje, SPID), fundado em 1953, a SPRJ, em 1955 e a Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, em 1959. Ainda estão em plena atividade no Círculo dois dos colegas fundadores: Edson Soares Lannes e Henrique Alberto Baez Sampaio. (6)
Os primeiros anos foram de fortalecimento científico e organizacional, com intensa atividade de estudos teóricos, técnicos e clínicos, bem como de definição progressiva de um estilo de convivência no processo de adaptação interna, com a saída de alguns e a entrada de outros e de reconhecimento externo.
Como decorrência de nossa fundação dentro do Círculo Brasileiro, fomos vinculados desde nosso início à International Federation of Psychoanalytic Societies (IFPS), entidade que congrega, em 2006, 27 sociedades de 15 países. Quando, em 1978, em função de divergências administrativas, nos desligamos do Círculo Brasileiro, apresentamos à IFPS nossa proposta de vinculação direta, que foi aprovada pela Assembléia de Delegados de 1980, em Helsinki. (7)
A partir de 1973, como seqüência natural de nossa atividade e atendendo à demanda de formação psicanalítica de muitos interessados, compusemos turmas para os estudos teóricos. Chamamos o grupo de 1973 de Turma 2, denominando o grupo original de Turma 1. Era implícita desde então a idéia de que a formação psicanalítica é permanente.
Como critério preliminar, macroscópico, de candidatura à formação seriada oferecida, pedíamos, para as primeiras turmas, que a pessoa fosse formada em psicologia ou medicina, visando a tranqüilidade futura do exercício profissional, já, de certa forma, objeto de cobertura legal. Hoje, estendemos este pedido, como pré-requisito, a todos os cursos de nível universitário.
Esse programa de turmas chegou até a turma 9, quando, no início da década de 90, em mais uma reflexão sobre a experiência vivida e sempre dispostos a uma reformulação organizacional que viabilize melhor a concretização dos nossos objetivos, criamos a estrutura atual, com suas Comissões Executivas e com o Fórum de Psicanálise.
Bem no início do caminho, em 1974, criamos a Biblioteca, hoje chamada Biblioteca Anna Katrin Kemper. Do acervo inicial fazem parte a coleção completa do International Journal of Psychoanalysis e os filmes de René Spitz.
Em 1978 publicamos o que veio a ser o germe da nossa Revista “Cadernos de Psicanálise”, com notícias, entrevistas e textos, muitos deles apresentados em nossas Jornadas anuais. Até 2006 são 19 os números publicados.
Um Departamento Clínico começou a existir em 1981. Muitos membros do Círculo já vinham participando da Clínica Social de Psicanálise fundada em 1973 por um grupo de psicanalistas liderados por D. Catarina e Hélio Pellegrino.
A administração atual das atividades do Círculo é feita por quatro Comissões Executivas: Comissão Administrativa, Comissão de Formação Permanente, Comissão de Publicações e Biblioteca e Comissão de Clínica.
O Fórum de Psicanálise, administrado pela Comissão de Formação Permanente, é aberto aos colegas que queiram a condição de Associados. No momento somos 81 Membros Efetivos, 2 Membros Correspondentes e 167 Associados ao Fórum.
A relevância de nossa existência pode ser demonstrada, entre outras razões por: fomos uma instituição pioneira na liberdade de estudo da psicanálise no Rio; mantivemos uma estrutura organizacional essencialmente democrática em época de privação dos direitos de cidadania no Brasil; participamos decisivamente na criação da Clínica Social de Psicanálise no Rio, co-organizamos 6 Fóruns Brasileiros de Psicanálise na década de 90 e co-organizamos 2 Fóruns Internacionais de Psicanálise (Rio-89 e Belo Horizonte – 2004, da IFPS); participamos do movimento “Articulação de Entidades Psicanalíticas Brasileiras”, que acompanha as tentativas (equivocadas) de regulamentação profissional da psicanálise no Brasil.
Continuamos sendo um grupo de pessoas interessadas em nosso ofício, não abrimos mão da livre associação de idéias (em todos os sentidos) e cultivamos um espaço de trabalho com uma estrutura organizacional sempre pensada para não ir além daquela estritamente necessária à realização de nosso potencial criativo.
Edson Soares Lannes
Referências Bibliográficas:
(1, 2 e 3) – Estatutos da Instituição
(4, 5, 6) – “Nossos 25 anos”, Cadernos de Psicanálise, CPRJ, n.8, 1994.
(7) – Atas da Instituição e da IFPS
Dados do autor:
Edson Soares Lannes – Psicanalista
Membro Fundador do Círculo
International Federation of Psychoanalytic Societies (IFPS)







